7 medidas (algumas curiosas) adotadas pela China para conter a epidemia do novo coronavírus

 Stringer/Anadolu Agency/Getty Images
De dezembro, quando surgiram os primeiros casos do covid-19 na China, para cá, muita coisa aconteceu. O vírus chegou a outros muitos países e infectou cerca de 1 milhão de pessoas, colocando em risco sistemas de saúde do mundo todo e também a economia global.
Todos os governos se esforçam e correm contra o tempo para conter o avanço dos casos da doença, mas encontram uma grande barreira no caminho: a inexperiência. Com a pandemia em curso, é muito difícil tirar conclusões e ter certeza sobre as melhores decisões a se tomar - tanto em relação à saúde como à economia. 
Foi pensando nisso que cientistas, médicos e líderes governamentais do mundo todo voltaram seus olhares para a China, país onde a epidemia começou, atingiu o pico, e desacelerou. Cerca de 3 meses se passaram entre os primeiros registros da covid-19 e o primeiro dia sem registros de contágio comunitário - em 19 de março. 
Por se tratar de um país com 1,5 bilhão de pessoas e mais de 9,5 milhões de km², o período de contenção do surto é considerado curto, o que mostra que as medidas adotadas foram eficientes.
Essa é a conclusão de um estudo internacional publicado na revista Science no final de março. A pesquisa afirma que “as drásticas medidas de controle implementadas na China reduziram substancialmente a disseminação da Covid-19”. 
O relatório foi assinado por cientistas de grandes polos de pesquisa como Universidade de Oxford, no Reino Unido, Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, e Instituto Pasteur, na França.
Com a epidemia controlada, a China agora se esforça em ajudar os outros países a lidarem com doença fornecendo informação, especialistas e também materiais essenciais nesse momento, como os materiais hospitalares. Abaixo, reunimos 7 medidas adotadas pelos chineses que estão sendo replicadas no mundo todo.

1) Quarentena


As primeiras restrições de mobilidade aconteceram no dia 23 de janeiro na cidade de Wuhan, província de Hubei onde os primeiros casos foram registrados. Rapidamente, as medidas foram replicadas para outras 14 cidades do entorno como forma de conter a rápida disseminação da doença. 
Com a decisão, mais de 60 milhões de pessoas foram impedidas de circular livremente nessas regiões
Shoppings, escolas, universidades, restaurantes, bares, cinemas, museus, hotéis e demais espaços que reúnem aglomerações foram fechados. Além disso, boa parte da produção industrial teve de parar durante os esforços para conter a epidemia. Apenas serviços essenciais foram mantidos, como supermercados e farmácias.
Outras províncias do país também adotaram medidas de restrição da circulação de pessoas. Acredita-se que no pior momento da crise do coronavírus, cerca de 780 milhões de chineses (metade da população) estivessem com restrições de circulação por determinação do Estado ou decisão própria.
Essa foi a primeira vez na história da humanidade que um governo proíbe as pessoas de sairem de casa. A medida, apesar de polêmica, funcionou. Antes, cada chinês acabava contaminando de 2 a 4 outros chineses. Após a quarentena, esse número caiu para 1,05.

2) Bloqueio de estradas

Além de restringir a circulação de pessoas dentro das cidades, a China também bloqueou a entrada e saída de viajantes para evitar que o vírus fosse transportado de uma região à outra do país. 
A primeira cidade bloqueada foi Wuhan. Também em meados de janeiro, o governo chinês fechou estações de trem, rodoviárias e o aeroporto local e passou a organizar bloqueios nas estradas para evitar a circulação de veículos privados.
Outras 48 cidades do entorno também aplicaram medidas restritivas aos viajantes. Algumas determinaram que as pessoas que queriam se deslocar deveriam fazer uma espécie de registro para controle da doença. Outras, seguindo o modelo de Wuhan, fecharam estações, rodoviárias e aeroportos.

3) Máscaras obrigatórias e fiscalização com drones

Outra medida adotada pela cidade de Wuhan foi o uso obrigatório de máscaras pelos chineses. Quem precisasse sair de casa por algum motivo, só poderia circular pela cidade se estivesse protegendo a boca e o nariz.
Acredita-se que a medida seja eficiente especialmente para conter a disseminação do vírus por quem já está contaminado, pois a máscara bloqueia as gotículas de saliva que saem pela fala ou tosse, impedindo que contaminem outras pessoas.
Para garantir que os chineses seguiriam a recomendação, o governo recorreu à tecnologia. Drones com alto-falantes sobrevoavam a cidade informando aos moradores que era preciso continuar usando máscaras e alertando os que estavam sem para que fossem imediatamente para suas casas.

4) Construção de hospitais temporários

Logo no começo do surto de coronavírus, o governo chinês começou a construir dois hospitais temporários em Wuhan para atender cerca de 2,6 mil pacientes. Os dois hospitais, acreditem, foram levantados em apenas 12 dias e logo receberam centenas de médicos enviados de diversas regiões do país.
Por trás de tanta agilidade, existe uma explicação. O governo chinês usa construções pré-fabricadas nesses casos de emergência. Para abrigar os blocos prontos, é preciso apenas nivelar o solo, sem necessidade de uma fundação. No total, cerca de 100 tratores e 4 mil trabalhadores se revezaram em 3 turnos para que o hospital ficasse pronto no menor prazo possível.

5) Lavagem de dinheiro

Uma medida pouco usual adotada pelos chineses foi literalmente lavar o dinheiro em circulação para evitar contaminação do vírus por meio do papel moeda.
Por determinação do Banco Central, os bancos chineses passaram a desinfetar as notas de yuan com luz ultravioleta e altas temperaturas. As notas também ficam armazenadas de sete a 14 dias antes de serem colocadas de volta em circulação. 
O dinheiro oriundo de áreas de alto risco de contaminação, como hospitais, passou a ser enviado ao Banco Central e destruído. Novas notas foram criadas para substituir as que foram extintas.

6) Medição de temperatura

Comércios e outros estabelecimentos estão deixando termômetros na entrada para que os funcionários verifiquem se estão ou não com febre (um dos principais sintomas da covid-19). Em alguns estabelecimentos, a medição é obrigatória. Em outros, é opcional. 
Além disso, o governo instalou detectores de temperatura corporal em locais públicos, como praças e estações de metrô, para identificar pessoas com febre. A medida foi possível graças à ampla rede de câmeras de monitoramento, com reconhecimento facial, espalhadas ao redor do país como forma de conter a criminalidade.

7) O poder dos aplicativos

Por fim, vale lembrar que os aplicativos das famosas empresas de tecnologia chinesas têm feito toda a diferença por lá. Um deles é Close Contact Detector (Detector de Contato Próximo), criado por uma estatal chinesa e disponível gratuitamente para a população. 
Basicamente, o usuário fornece alguns dados pessoais e o aplicativo verifica todas as suas viagens recentes a procura de contatos próximos com pessoas diagnosticadas com covid-19
A busca só é possível porque o governo tem armazenados dados de deslocamento de todos os cidadãos chineses. O aplicativo já foi utilizado mais de 100 milhões de vezes apenas nos dois primeiros dias de funcionamento e detectou mais de 70 mil possíveis casos de exposição ao vírus. 
O Wechat, aplicativo de mensagens mais popular do país, também disponibilizou um recurso que permite aos usuários saber a que distância estão do caso mais próximo de covid-19.
Todas essas medidas contaram com grande colaboração da população do país, que está acostumada a deixar de lado algumas liberdades individuais em prol de um bem coletivo. Cerca de 2 meses após início das medidas mais restritivas, a China anunciou que a epidemia estava controlada e que poderia se dedicar mais aos esforços globais para contenção da covid-19.

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